O mundo gamer deixou de ser um nicho. Parece estranho escrever essas palavras, mas não é. O gamer hoje é você, sou eu e é todo mundo que consome entretenimento. Aquela velha imagem de um garoto com um controle na mão e uma vida social horrível é tão deturpada e antiquada que poderia e deveria estar em um museu.
É impossível não perceber que o assunto chama cada vez mais atenção, não apenas de novos jogadores, mas de marcas, de empresas de comunicação e de todos os players que passaram a entender o potencial infinito de investir em games como mais uma plataforma para distribuir a mensagem de uma ação.
Enxergar os jogos como mídia é uma decisão que o mercado tomou há pouco tempo, mas que vem mostrando que este é o caminho certo. A prova? Observe os grandes nomes dos diversos jogos ou plataformas de streaming, como a Twitch, e veja: como eles são cotados, com quais marcas trabalham, quantos seguidores possuem.
O jornal O Globo afirmou que NOBRU já atravessou as telas do FreeFire e se tornou mais famoso do que jogadores de futebol. Gaulês, outro exemplo, é um dos maiores streamers do mundo e hoje possui parcerias como a NBA, que o permite transmitir e comentar os jogos ao vivo junto ao seu público de mais 3,2 milhões de seguidores na Twitch.
Assim como nos jogos finais do Brasileirão, na Copa do Mundo e no SuperBowl, as transmissões dos campeonatos de e-sports também se provaram relevantes. O CBLOL atingiu mais de 400 mil espectadores no fim do primeiro split de 2021. Estes resultados chegaram após anos de trabalho por parte das desenvolvedoras e das organizações que participam destes campeonatos e que possuem torcedores fiéis. Assim como nos esportes tradicionais, os jogadores são ídolos do público e inspiração para muitos. Todos nesta cadeia entenderam o tamanho do mercado e transformaram suas plataformas, marcas e equipes em veículos de mídia. Toda essa mobilização ajuda no crescimento do setor e na mensuração de sua relevância.
A profissionalização também chegou a um mercado paralelo aos jogos e aos jogadores. Estamos falando aqui dos streamers e produtores de conteúdo que orbitam nesse meio em diversos cenários: alguns são comentaristas, outros jogadores e há também os especialistas em certos games. Em sua maioria, produzem conteúdo em plataformas como a Twitch, que permite ao produtor ficar em uma transmissão ao vivo durante horas a fio. Vale ressaltar que grandes emissoras tradicionais, como o SBT, já possuem um time de produtores de conteúdo que trabalha via Twitch só cobrindo games, além de muitas marcas que estão nessa conversa realizando ações, patrocinando conteúdos, lives e se aproveitando de todo o engajamento que eles são capazes de produzir.
Após caminharmos nessa direção e termos, como ponto pacífico, a importância dos games como plataforma de comunicação e de seus ícones como canais de mídia, podemos avançar em um tema mais instigante: o que fazer com tudo isso?
Mídia e Engajamento
Para pensar em comunicação para jogos, seja do ponto de vista publicitário ou de relações públicas, é importante conhecer suas principais plataformas. São muitas e com infinitas subdivisões, mas, por meras questões metodológicas, vamos eleger três: mídia/ influenciadores/ eventos.
Primeiro, começamos com as mídias in game, aquelas que ocorrem, literalmente, dentro do jogo e que contam com o universo elaborado pela desenvolvedora do game. As ações neste setor devem ser vistas a partir de apenas KPIs próprios e um plano de mídia que entenda seu potencial e mercado. Esta análise deve ser maior, enxergar o impacto que gerou para a marca e, principalmente, seu engajamento. Como exemplos de ações in game que geraram um buzz, em 2021, é possível citar: a Pepsico que, por meio de sua marca Doritos Rainbows, realizou uma Parada Gay em um mapa do Fornite, e a dupla Twenty One Pilots, que realizou a estreia de sua turnê em um show interativo no metaverso do Roblox.
É importante lembrar que o potencial criativo oferecido pelo trabalho dentro desses espaços só é limitado pelas regras do jogo. Tudo pode ser criado, desde que o universo do jogo, as leis (da vida real) e o público sejam respeitados.
Os Influenciadores
Os influenciadores e, principalmente, suas plataformas de streaming favoritas também representam um caminho para as marcas. Para as endêmicas, começar com um vídeo ou qualquer conteúdo com um desses grandes nomes é um primeiro passo, e a consequência é quase sempre a mesma: os resultados vêm e o interesse se amplia.
Depois, mais acostumadas, as marcas passam a trabalhar em outros formatos, como placements em cenários de lives na Twitch, por exemplo, ou disclaimers durante as apresentações, que têm uma duração bem maior do que qualquer comercial de televisão e um público muito fiel.
Essa caminhada evolui após as marcas perceberem que o influenciador (aqui incluímos streamers, tiktokers e até próprios players) não está sozinho, mas, na verdade, é parte de um universo grande e complexo. O que podemos concluir atualmente é que, após a introdução dada pelos produtores de conteúdo, patrocinar campeonatos, organizações e transmissões se torna algo natural para as marcas.
Eventos
No Brasil, acontecem anualmente muitos eventos dedicados ao público gamer e que oferecem um verdadeiro paraíso para as marcas, agências e, principalmente, para apaixonados por jogos. Independentemente do acontecimento – seja um campeonato, encontros com pro-player e até eventos gigantes que englobam tudo isso -, todos atraem multidões de espectadores em busca de novidades. Aqui podemos citar o crescimento vertiginoso da Game XP, que atraiu mais de 15 marcas unindo música, e-sports e entretenimento em uma edição online, da consolidada BGS (Brasil Game Show).
Futuro
Analisando o cenário, seu potencial e atual crescimento, é possível perceber onde está o futuro da mídia. A possibilidade de ações contínuas e participações planejadas e genuínas, por parte das marcas que desejam conversar com o público e viver a narrativa do jogo junto com ele, será cada vez mais comum na comunicação.
As ações pontuais baseadas na oportunidade (formato muito utilizado hoje) em breve não vão gerar o mesmo efeito. O público aqui, assim como o de outras mídias, é exigente, atento às tendências e ansioso por conexões, e novidades e ações efêmeras terão efeitos correspondentes.
Por fim, não é mais preciso provar que o universo gamer já se profissionalizou e algumas marcas já tomaram a dianteira para ocupar esse espaço junto com a mídia e com o público.
O que vem por aí é planejamento, ações constantes e retorno recordes para as marcas.