Rádio corredor, geleia de figurinhas e cultura

O WhatsApp assumiu o lugar da famosa Rádio Corredor ou Rádio Peão, área do cafezinho da firma onde as pessoas se encontram pra deixar correr solto conversas informais, fofocas e formar opiniões sobre assuntos diversos.
Diversos emojis de WhatsApp

Conteúdo escrito por Tatiana Bar Newell, Diretora de Comunicação Interna, Cultura e Marca Empregadora

O WhatsApp assumiu o lugar da famosa Rádio Corredor ou Rádio Peão, área do cafezinho da firma onde as pessoas se encontram pra deixar correr solto conversas informais, fofocas e formar opiniões sobre assuntos diversos. Alguns já se aventuraram em destruir essa consagrada máquina de comunicação corporativa, mas não obtiveram sucesso. É algo cultural latino, especialmente brasileiro.

Atualmente, o que tem alimentado os grupos de WhatsApp tanto os da firma quanto os pessoais? A filha do meme, a tão famosa e criativa figurinha, febre e paixão de muitos brasileiros de diversas gerações, de norte a sul do país. Elas podem ser feitas, reproduzidas e colecionadas por meio do aplicativo, o que reflete a facilidade de seu uso, bem como, para cada situação ou assunto, existe um tipo de figurinha pronta para ser compartilhada. De quem menos você espera surge uma figurinha inédita, criativa, apropriada ou inadequada.

Certamente alguém que iniciou a leitura deste artigo acaba de criar um grupo no WhatsApp, foi adicionado a um, ou até mesmo optou por sair de um grupo. Assim como também aposto que acabam de ser impactados, se identificaram e salvaram imediatamente uma figurinha. Essa é a dinâmica que nos movimenta diariamente no zap. Passamos horas da vida nos comunicando por meio desse aplicativo. Um outro fato é que uma figurinha vale mais que mil palavras. Os adeptos declarados do #foratextao já migraram para essa dinâmica faz tempo, já que elas estão disponíveis pelo aplicativo para uso do grande público há quatro anos.

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A verdade é que uma figurinha, se bem colocada em contexto e com respeito ao público a que se dirige, cumpre o seu valor de comunicação com excelência. Há algum tempo usa-se pacotes de figurinhas como parte de ações de planos de comunicação corporativos. O colaborador quer consumir aquilo que faz parte do dia a dia dele. Quanto mais próximo da sua vida real, do seu comportamento digital, mais efetiva é a comunicação. Com elas quebramos algumas barreiras da comunicação em empresas com culturas mais rígidas por meio do humor. Quem diria….

Figurinha é um novo gênero de comunicação? Para a pesquisadora de Letras e Estudos de Linguagens em Novos Contextos da Universidade Federal de São Paulo, Lídia Kogawa, a resposta é sim: “É um fenômeno, que vem revolucionando a forma como nos comunicamos. Cumprimentamo-nos com um “bom dia”, trocamos ideia, discutimos, expressamos e formamos uma opinião sócio-política. É de um poder de comunicação incalculável, pois não temos como medir até onde elas podem chegar, tampouco de ordem surgem. Cada indivíduo pode ter uma interpretação e tudo depende do contexto em que são disparadas. Em certa medida, substitui a linguagem escrita”, afirma.

Segundo ela, é possível traçar uma conversa inteira por meio de figurinhas, mas pondera que é preciso ter responsabilidade: “Não é apenas uma imagem pequena, divertida ou até inofensiva. Tem uma série de significados e um peso, seja moral, político etc. Importante refletir antes de mandar, ter entendimento do contexto e o público ao qual será direcionada”.

E você, qual é a sua opinião sobre se comunicar usando figurinhas de WhatsApp?

COMENTÁRIOS

Respostas de 2

  1. Concordo. Se Confúcio vivesse nos dias de hoje, sua famosa frase seria “uma figurinha no Whatsapp vale mais do que mil palavras”. Nunca havia parado para pensar na importância que esses ideogramas modernos adquiriram em nosso estágio civilizatório. Comunicam o que as palavras quereriam dizer, mas com uma expressividade mais poderosa do que aquela disponível em uma conversa no cafezinho, onde gestos e expressões faciais seriam seus pretensos equivalentes. E no caso da palavra escrita, então, não há comparação. No texto escrito, o contexto muitas vezes fica pelo caminho.

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