Com uma comunicação próxima e uma escuta ativa, a Covid-19 acabou trazendo junto a oportunidade de reforçar os vínculos e o engajamento interno no longo prazo
Lidar bem com a comunicação de crise é tão importante quanto lidar bem com a própria crise. Sempre soubemos disso e agora constatamos todos os dias na prática. Com a pandemia e as novas formas de trabalho, líderes de grandes empresas se transformaram também em comunicadores. Muitos adotaram as lives com funcionários, outros estão mais abertos ao diálogo que chega agora também às famílias de seus funcionários. Webinares reunindo toda a empresa agora são mais comuns e acessíveis aos vários níveis hierárquicos. Com uma comunicação próxima e uma escuta ativa, a Covid-19 acabou trazendo junto a oportunidade de reforçar os vínculos e o engajamento interno no longo prazo.
Esse diálogo empresa-empregado está acontecendo em níveis que até pouco tempo eram inimagináveis. Um movimento que não tem mais volta. A tecnologia faz com que transparência e a necessidade de conexão sejam um ponto de partida e não mais um diferencial.
Sabemos disso porque perguntamos diretamente às empresas como elas estão se saindo nesse momento. Fomos ao mercado ouvir 12 grandes multinacionais, com times acima de 5 mil colaboradores, em uma sondagem qualitativa para traçar o perfil da comunicação interna na pandemia e na retomada. Como engajar os funcionários nessa nova cultura do trabalho, considerando todos os novos protocolos? Que aprendizados já podem ser apontados desse momento tão difícil? O que mais chama a atenção nas respostas é o grau de abertura que passaram a ter em sua comunicação. Diálogo agora é um ingrediente fundamental.
Sabemos que os líderes das grandes empresas estão com enormes desafios nas mãos. Seja do ponto de vista da estratégia do negócio, ou da administração interna dos times e as adaptações das suas sedes para as questões de saúde, qualquer decisão hoje em dia ficou muito mais complexa. Problemas anteriores parecem pequenos ou irrelevantes. Estão imersos em um grande gerenciamento de risco e de reputação sem data para acabar. Nessa hora mais uma vez a comunicação se mostra estratégica para a sobrevivência do negócio. Por melhor que seja o plano de retomada, se o empregado não se sentir seguro e se não “comprar” o discurso da empresa, há boas chances de sair errado.
O momento exige um novo mindset. E mudanças de cultura e de hábitos são custosas. Exigem muito diálogo e tempo investido. Empatia e humanidade foram as palavras mais repetidas em nossa sondagem. O tom da comunicação e muito mais humano agora do que em outros momentos. A retomada das atividades presenciais será um tempo de muito ajuste fino e possivelmente de reclamação. O líder precisa ser maleável, flexível e paciente.
As empresas estão aprendendo a escutar mais. Pelas redes sociais internas, seja pelas sessões de lives com os presidentes, o empregado tem muito a perguntar e a comunicação se torna uma facilitadora desse diálogo. Somente uma das 12 empresas com quem conversamos, realizou 35 sessões com seu presidente em três meses. Ele abre um horário na agenda, envia o link e entra quem quer, perguntando o que for necessário. Transparência e acessibilidade são a receita.
Existe também uma nova “intimidade” com o empregado que não deve ser desperdiçada. Com as teleconferências todos nós entramos nas casas uns dos outros, conhecemos os filhos, os pets, dividimos problemas domésticos. Uma gestora de RH me disse que agora caiu a máscara corporativa. Sabe aquele tipo de empresa que todo mundo se comporta e se veste de forma quase igual? Com a pandemia, esse comportamento tende a cair em desuso. A autenticidade virou um novo valor, trazendo um arejamento necessário para mais criatividade e conexões.
Em resumo, campanhas foram feitas, novos veículos de comunicação foram criados. Mensagens por WhatsApp foram incorporadas e as lives já são parte da rotina. O vírus afastou fisicamente, a tecnologia uniu. Um novo vínculo com o empregado está sendo construído. A comunicação, sem dúvida está transformada para melhor após pandemia. Ela é o suporte, o veículo para essa conexão acontecer.